Há uma descoberta particular, em Evangelion 3.33, que eu estou particularmente orgulhoso (o autor original do post). Assim que vi Shinji entrar na biblioteca da Nerv – a propósito, você sabia que a Nerv tinha uma biblioteca? – meu instinto sugeriu que eu ficasse de olhos bem abertos e com as mãos no teclado para aguçar a vista. De fato, minha paranoia foi recompensada por que eu identifiquei algo conhecido.
Post original traduzido dos mestres e amigos italianos do Dummy System.
Shinji Ikari: O Principe (não) Feliz
É de conhecimento de alguns (ou muitos) que em Evangelion também à referência ao universo dos contos de fadas, listando alguns:
- O malvado rei dos Lilins;
- Uma princesa guerreira, forjada pelo fogo de mil batalhas…
- … que, aparentemente, está cedo para se adequar as regras tradicionais e ser salva (por Shinji, presume-se.)
- Uma terrível maldição que condena os pilotos Evangelion a viver em esplendor perpétuo de seus quatorze anos.
- Um Escudo Mágico da Virtude.
A humanidade invoca a ajuda de um herói, um cavaleiro de armadura brilhante que monta um cavalo, ou, melhor ainda, um príncipe. Como o único filho e herdeiro do Rei dos Lilins, podemos dizer que o título já pertence a ele, pelo menos não oficialmente.
Um olhar mais atento, uma pista sobre o possível surgimento de um príncipe já chega em 2.22, é claro despercebida (pelo menos por pessoas normais), sob a aparência de um objeto muito insignificante – especialmente se você acha que não será mencionado explicitamente reis, princesas ou outros títulos de nobreza até o terceiro filme. Refiro-me, é claro, ao ver o livro de cabeceira de Rei Ayanami: O Príncipe Feliz e outros contos de Oscar Wilde.
[2.0] Rei está lendo “O Príncipe Feliz e outros contos”, de Oscar Wilde.
Uma imagem mais clara do livro
Leia abaixo, clicando no spoiler o conto
Agora, de volta para a biblioteca que fortuitamente apareceu na sede da Nerv. Eu encontrei em um velho conhecido, na verdade qual foi o primeiro livro que Shinji encontra nos escombros?
[3.33] Shinji recupera um livro aleatório da biblioteca da Nerv.
Olha que coincidência!!!!!
Apenas uma leitura dá para perceber que o protagonista da história de Wilde e o nosso Shinji compartilham muito do seu nascimento nobre.
Quando eu era vivo e tinha um coração humano — respondeu a estátua — não sabia o que eram lágrimas, pois vivia no Palácio Sem-Cuidados, onde não é permitida a entrada da tristeza. […]. À volta do jardim havia um muro muito alto, mas eu nunca me preocupei em perguntar o que estava do outro lado, pois tudo à minha volta era muito bonito. […] E agora que estou morto, eles puseram-me aqui em cima, tão alto que consigo ver todas as coisas feias e toda a miséria da minha cidade, e apesar do meu coração ser feito de chumbo, não consigo deixar de chorar.
Você não pode realmente dizer que o nosso príncipe, vivo, foi um grande exemplo de filantropia, mesmo ele dando uma desculpa esfarrapada, “não ignorei a miséria do meu povo porque eu queria, não é minha culpa que as paredes em volta da minha casa era tão altas… “. E assim, trancado além dessas paredes, ele levou uma vida de passividade e egoísmo (em O Gigante Egoísta, outra história bem conhecida de Wilde, o personagem principal levanta um muro alto em torno de seu belo jardim para que ninguém além dele possa apreciar), evitando a sua responsabilidade de reinar e perdendo o interesse no mundo exterior.
Como a situação é semelhante à do príncipe Shinji?
Para começar, há catorze anos de negligência que o menino gasta dissolvido dentro do EVA-01. Enquanto os sobreviventes do Terceiro Impacto estão lutando dolorosamente para colocar o mundo nos eixos, Shinji – que o impacto causou – está em um estado de inconsciência, preso em “lugar-nenhum” suspenso no tempo. Quando é resgatado pela Wille, a última coisa que se lembra é que salvou Rei de Zeruel, mesmo quando é fornecido uma explicação (longe de explicações amigáveis e compreensíveis) tudo o que ele faz é teimosamente se esconder atrás do “suposto salvamento” e exigir o heroísmo desse gesto, recusando-se a enfrentar as consequências.
Agora, a sequência final de 2.22, foi recebida com entusiasmo por boa parte dos fãs. Finalmente ele decidiu fazer algo para os outros! – Mas nós, como a cena é, sem dúvida, épica e envolvente reserva o benefício da dúvida sobre o heroísmo de Shinji. O alarme é disparado com a declaração: “Eu não ligo para o que vai acontecer comigo. Não me importa o que vai acontecer ao mundo. Mas … pelo menos Ayanami, Ayanami… eu vou salvar! “. Tudo bem, o nosso cavaleiro revela-se pronto para morrer pela causa e isso é louvável. Pena que ele não se importa que, ao fazê-lo, ameaça destruir o mundo que deveria proteger. Shinji faz bem em ajudar Rei, mas isso é um gesto de carinho e altruísmo genuíno ou uma posição que recusou? Os comentários de Misato diz tudo: “Vai, Shinji! Não faça isso porque outra pessoa mandou! Faça isso por que é o que você acredita! “
Não há dúvidas sobre isso. Mari estava certa: Shinji vira as costas para Wille (porque também é preciso dizer, ninguém se esforça especialmente para fazer o seu despertar ser menos traumático) e, assim como uma bom cachorrinho, volta com o rabo entre as pernas para NERV, Rei e seu pai. Aqui, muito além das paredes do Geofront, Shinji permanece, agarrando-se as poucas coisas que, neste mundo hostil, que sabe – ou pensa que sabe, quase sem fazer perguntas. Sem tentar entender o que aconteceu na sua ausência ou o que aconteceu com a cidade que uma vez defendeu. Até que, por acaso, aparece a camisa amarrotada de Toji. Só então ele decide abrir os olhos e busca Kaworu atrás de respostas.
Numa altura em que Shinji finalmente se liberta do Geofront/edifício – que agora voa alto em uma Terra devastada, apoiado por uma coluna – sua condição coincide perfeitamente com a do protagonista no início do conto: finalmente, o príncipe se vê cara-a-cara com as consequências de seus pecados.
“Sempre há esperança”, como diz Kaworu, e não há nenhuma irregularidade que não pode ser expiado. O Príncipe Feliz faz isso através de pequenos gestos, quando retira o ouro e pedras preciosas e os entrega para os necessitados. Shinji procura expiação mas as coisas se tornaram um pouco mais complicadas.
Na verdade, ele propõe “reparar” o mundo e trazê-lo antes do terceiro impacto usando o Lance de Longinus e Cassius, oferece à Shinji uma brecha. Você tem que admitir que apagar as ações é muito mais fácil do que lidar com as consequências e tentar corrigi-las
A expiação, então, é essencial que tenha algum tipo de sacrifício. O Príncipe Feliz oferece seus olhos de safira e encontra-se cego, finalmente despojado das folhas de ouro que cobrem-no, está nu. Qual é o preço que Shinji pagaria para o truque das Lanças? Bem, ninguém: seu pai é um caso perdido, a Rei que conhecia já não existe (e também há o negócio desagradável da clonagem de sua mãe), Misato e Asuka tratam com frieza ou mesmo com desprezo, seus amigos foram embora, a cidade está em ruínas. Como se não bastasse, neste mundo não há lugar para Shinji. Não é mais necessário para pilotar o Eva, com efeito, seria melhor para todos se ele não fizesse nada.
O mundo de Q é o pior cenário para Shinji: um mundo em que ninguém o quer e ninguém cuida dele, um mundo onde todo mundo odeia ele, um mundo onde Shinji não existe. A realidade é que Shinji não tem nada a perder, exceto Kaworu.
Kaworu é a andorinha, é quem suporta o peso real — o peso das joias, o ressentimento do DSS Chocker dos Lilins — as ofensas do príncipe. No final da história, a andorinha morre de frio e o coração de chumbo do Príncipe parte ao meio.
Notas e outras amenidades
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- Remanesce ser visto se a analogias terminam aqui ou, em vez disso, a referência à história de Wilde não deve ser interpretada como um presságio. O destino do Príncipe Shinji talvez está marcado? Qual o preço para salvar a princesa Asuka (e talvez até do mundo, desta vez) e a própria vida? Esperamos que tudo se resolva “e eles vivam felizes para sempre”, mas um final culminando com o sacrifício supremo de Shinji, afinal de contas, não parece tão absurdo.
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- Não foi por acaso que eu falei de cavalo e armadura brilhante. O jogo favorito de Gendo e Fuyutsuki, Shogi (de que em breve nós discutiremos em um post dedicado), Shinji está vinculado ao peão do cavalo. Ou, se quisermos manter a tradução literal ao cavaleiro. Outra referência ao seu papel como um príncipe?
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- Tenha cuidado, porém, porque Shinji tem um possível rival! Em 2.22, quando Gendo visita a base lunar que está pesquisando a construção de Mark. 06, Kaworu fala com o mais perturbador sorriso e cumprimenta-o com uma das piadas mais mindfucking da história de Evangelion (que é alguma coisa): “Muito prazer por conhecê-lo, papai.” O que você quer dizer? “DEUS SABE”. No entanto, em 3.33, é sempre Kaworu que se refere à Gendo como “o rei dos Lilins”. Agora, não podemos saber em que direção vai esse Gendo “pai” de Kaworu, mas deixe-me dar um silogismo: Kaworu é o filho (?) de Gendo. Gendo é o rei dos Lilins. Ele é o filho do rei dos Lilins. E o que é um filho do rei, se não um príncipe…?
Alguns pontos em comum com o príncipe feliz, embora menos marcado, eles podem rastrear: ele também observa de uma posição privilegiada (mesmo da lua!), a lança arremessada por cima para parar o terceiro impacto pode recordar as joias que a andorinha pegava do chão no voo, e então, bem, nós sabemos o que acontece com Kaworu, certo?
- Tenha cuidado, porém, porque Shinji tem um possível rival! Em 2.22, quando Gendo visita a base lunar que está pesquisando a construção de Mark. 06, Kaworu fala com o mais perturbador sorriso e cumprimenta-o com uma das piadas mais mindfucking da história de Evangelion (que é alguma coisa): “Muito prazer por conhecê-lo, papai.” O que você quer dizer? “DEUS SABE”. No entanto, em 3.33, é sempre Kaworu que se refere à Gendo como “o rei dos Lilins”. Agora, não podemos saber em que direção vai esse Gendo “pai” de Kaworu, mas deixe-me dar um silogismo: Kaworu é o filho (?) de Gendo. Gendo é o rei dos Lilins. Ele é o filho do rei dos Lilins. E o que é um filho do rei, se não um príncipe…?
- Eu quero esclarecer que tudo foi feito por causa da discussão, e que o artigo não ilustrar uma fração do meu pensamento sobre o personagem. Felizmente, personagens de Evangelion são complexos o suficiente para ser visto de vários ângulos.