EVA.doc | O papel de Mari nos Rebuilds of Eva

A personagem que é amada por uns, odiada por outros. Sempre fui da opinião que ela tinha uma função importante na história mas que sofria do mal de muitos elementos apresentados nos Rebuilds: jogue uma informação/personagem/conceito/evento novo no enredo e deixe que os expectadores se virem contextualizar e, é claro, o contexto que nós criamos internamente não vamos colocar na história mas vamos considerá-lo nos eventos seguintes (Entenda o que estou falando lendo esse artigo). Veremos que tudo isso é resultado de seu desenvolvimento.

Eu tinha muitas ideias e opiniões desorganizadas sobre Mari até ler uma thread no Twitter, feita por @shinramain por uma indicação da brilhante @_sunshinebae, que era exatamente o que penso sobre ela (por que então nao trazer para cá?). Utilizei a thread como base, e fica aqui meus agradecimentos o(a) @shinramain.

Vamos falar, revelar coisas e desconstituir mitos sobre Mari Illustrious Makinami.

1 – Criação

Nada melhor do iniciar comentando sobre o seu conturbado desenvolvimento. Evangelion 1.0 foi praticamente idêntico aos primeiros seis episódios da serie TV, a nova edição teatral de Evangelion seria idêntico ao que já foi feito ou seria uma obra completamente diferente? O que se fazer para afastar da obra original? A tarefa de criação de um novo personagem não foi tarefa fácil. O próprio Hideaki Anno admite, no Evangelion 2.0 Complete Records Collection, que foi difícil, o que explica seu papel limitado nos dois primeiros filmes:

— Ouvi dizer que você teve muita dificuldade com a criação da personagem de Mari.
Anno
: Certo. Foi extremamente difícil. Desde que comecei os novos filmes, decidi por esse “truque único” onde aumentaria a contagem de pilotos femininas com um novo personagem. Senti que havia o perigo de que, se não fizesse isso, acabaria repetindo a mesma história e não conseguiria mudar significativamente as coisas. Eu senti que, mesmo que eu tivesse que forçar, se eu não colocasse um novo piloto de Eva como um elemento extremo e estrangeiro nos filmes, então Eva não mudaria significativamente. No início, sinto que a empurrei à força para a história. Os primeiros rascunhos eram tão erráticos que, não tendo relação com a história, a própria existência de Mari parecia não ter base. Fora da sequência do pré-título, ela praticamente não apareceu. Mas porque na época eu esperava que, se ela fizesse mais do que uma aparição na segunda parte [2.0], eu seria incapaz de desenvolver Asuka ou Shinji ou outra pessoa, deixei as coisas como estavam. Achei que deveria desenvolver o novo personagem a partir da terceira parte [3.0], onde a história mudaria completamente. Seria fácil inseri-la ali. Bem, essa era uma visão completamente ingênua.

De qualquer forma, quando se tratava de realmente aumentar sua aparição, eu não conseguia encaixá-la. Simplesmente não era possível que ela aparecesse. O Evangelion original foi feito de forma mais rígida do que eu pensava. Não havia margem real para novos elementos entrarem na história ou no drama. Eu criei a série original selecionando as melhores maneiras de fazer as coisas que eu poderia pensar na época, então se eu danificasse um elemento, outros elementos seriam danificados como parte de uma reação em cadeia. No final, comecei a ficar cada vez menos interessado em fazê-lo.

Isso foi difícil de lidar. O trabalho tinha mais de dez anos, mas ainda assim, eu mesmo o criei, então não foi fácil para mim danificar. Isso não é auto-congratulação – fui forçado a reconhecer novamente que o “fluxo” foi muito bem construído. O Evangelion original foi inteiramente criado a partir de meus sentimentos não embelezados e meus escritos improvisados, então não foi concluído de acordo com uma teoria. Como resultado, pensei em conseguir que outras pessoas, forasteiros, me ajudassem a destruí-lo – Tsurumaki em particular. Além disso, há partes de mim que são diferentes em comparação com aquela época. Então, eu tentei mudar [Eva]. Foi uma batalha com o meu eu do passado, meu eu onze anos atrás. Foi preciso muita força interior.

— É um processo em que você pode acabar repudiando seu núcleo interior, então posso imaginar a dor envolvida. Na prática, como você tentou inserir a Mari na história?
Anno: Para começar, deixei [certas coisas] para os outros. Tentei propor o mínimo possível de sua imagem. Eu dei a O-sada [Yoshiyuki Sadamoto] e Makki uma impressão grosseira de seu settei: seu design externo era para ser o de uma garota de escola particular inglesa, um pouco “O-nee-san”, talvez com amor por animais também, e assim por diante. Depois disso, deixei-os resolver as coisas; eu senti que iria apenas verificar o que eles completaram. Acho que, desde que foi decidido que [a personagem] apareceria, o trabalho em equipe no design do personagem começou muito cedo. Acho que Sadamoto lutou muito [com Mari] por um tempo também, mas chegou na direção de “um meganekko, com cabelos longos e lisos”, e assim por diante, logo no início. Afinal, o desenho bruto estava pronto a tempo para a pré-visualização no final de “1.0”. Ele lutou com isso novamente quando chegou a hora de reunir e revisar tudo para produzir as imagens do settei da Mari, mas acho que o resultado foi muito bom, como seria de esperar de O-sada.

No entanto, houve algumas dificuldades, pois sua personalidade não estava se unindo. As coisas começaram com um processo de eliminação. Já havia uma personagem “normal” em Hikari, e personagens “excêntricos” em Rei e Asuka. Em primeiro lugar, [nós] tentamos tomar como ponto de partida aquelas características de personalidade e aspectos da aparência que ainda não haviam sido usados ​​em Eva. Ela era composta de elementos simples; por exemplo, “ela usa óculos como acessório, que até então evitávamos usar porque eram difíceis de animar”. No entanto, se isso fosse tudo, ela não seria uma nova personagem, apenas uma personagem “não” – o que quer que Rei, Asuka, etc., não fossem. As posições dos personagens na obra original também foram construídas de forma extremamente rígida. Se Mari fosse inserida descuidadamente, o drama, a história e o equilíbrio do todo desmoronariam completamente. Embora eu almejasse a mudança, se fosse apenas diferente do trabalho original, no final não seria nada além de um “contra” ao que havia antes…

— De que forma você acha que a personagem de Mari se firmou no filme como resultado dessas dificuldades?
Anno: Acho que ela se tornou uma boa personagem que, apesar de sua curta aparição, era impressionante. Isso foi novamente devido à persistência de Tsurumaki. De qualquer forma, nós a retratamos com muito cuidado para deixar uma impressão. Eu queria que Mari fosse uma estranha dentro de mim, bem como uma presença alienígena no mundo de Eva. Por causa disso, confiei uma porção significativa [do trabalho referente a ela] a Makki. Se eu tivesse tomado muita iniciativa, havia o risco de ela se tornar [igual] aos personagens já existentes. Acho que o resultado ficou muito bom, e estou satisfeito com isso, pois a personagem contém algo da sensação de presença alienígena. A imagem da voz dela também não foi decidida por mim, e a sugestão de (Maaya) Sakamoto-san, se bem me lembro, foi, além disso, feita por O-Sada. Acho que Makki também aprovou [essa sugestão] na época. Acho que disse algo na época, mas no final disse algo como “Acho que está tudo bem”.
Isso foi na época de uma festa no estúdio. Otsuki-san, que ficou impaciente com o fato de que, apesar de estar perto do período afureko, o elenco ainda estava indeciso sem eu ter feito nenhuma sugestão, estava perguntando aos membros da equipe naquele momento qual seiyuu seria bom para a nova personagem, e o nome de Sakamoto-san foi mencionado. A resposta dos membros da equipe ao redor foi favorável. Então, Otsuki-san disse: “Anno-san, Sakamoto-san está bem; vamos escolhê-la. Amanhã, conversamos no escritório”. “Sim, tudo bem”, eu disse. [Até agora] eu só tinha cumprimentado ela em alguns eventos, mas achei que [a decisão] foi algo bom. Ela também teve um bom desempenho no Top 2 (Aim For The Top 2!), e como foi uma recomendação de O-Sada e Makki, achei que não haveria problemas. Bem, mais tarde, quando fui beber com várias pessoas, Minami [Masahiko] do Bones me disse: “Anno pegou nossa Maaya sem nos perguntar blá blá” (risos)

Todo esse processo complexo de desenvolvimento deu a Mari uma identidade e um papel na história. Não é a toa que a partir que surge de para-quedas e encontra Shinji a história que vinha seguindo os acontecimentos de Neon Genesis Evangelion começa a ter uma mudança significativa. É com ela que as mudanças passam a acontecer. O primeiro vislumbre disso é que logo após conhecer Mari o Walkman de Shinji que sempre ficava entre as faixas 25 e 26 desde a série TV passa para faixa 27.

2 – Moyoco Anno?

Antes de prosseguir vamos desconstituir uma faláscia que se espalhou pelo fandom (espalhado por um co-fundador da Gainax) sobre sua origem e como pode-se observar pelos relatos acima é obviamente falso. Não, Mari não foi baseada na esposa de Anno, Moyoco Anno.

Tal boato causou irritação nos membros da equipe de Eva e causou problemas com a própria Moyoco já que muito ódio à personagem por certos fãs foi direcionado a ela, inclusive recebendo ofensas por meio do Twitter.

O assunto foi comentado pela equipe, por Moyoco Anno e pelo próprio Hideaki Anno durante a sessão de perguntas e respostas com fãs:

P: É verdade que Mari é baseada em sua esposa Moyoco Anno?
Anno: Embora às vezes eu veja artigos e vídeos que afirmam que a personagem de Mari é inspirada em minha esposa, isso é apenas teoria e especulação de algumas pessoas. O perfil de personagem de Mari (de Asuka e outros também) é em grande parte criado pelas mãos do Diretor Tsurumaki.[especulação sobre Moyoco] é diferente do que realmente aconteceu na época da produção. O público deve ser livre para interpretar os personagens e a história como quiser. Esse trabalho também deve acomodar os fãs como um playground intelectual gratuito. No entanto, fiquei muito triste que especulações tendenciosas tenham causado problemas a minha equipe e a minha família. Portanto, nego explicitamente esta questão.

Não me compare com Mari. É ótimo que as pessoas estejam falando sobre “Shin Evangelion” e seus pensamentos sobre isso, mas… Mas por favor, não me compare com o trabalho mais do que você precisa. Por favor, não me faça sentir desconfortável com isso

Moyoco Anno respondendo uma newsletter com seus seguidores.

“Outro vídeo nojento apareceu. Nunca tive nenhum contato com o diretor e nunca conheci Toshio Okada. Acho que é hora de parar de fazer comentários ofensivos com base em suposições malucas.” ; “Toshio Okada não encontra com Anno há um quarto de século, e ele nunca conheceu Moyoco. E ainda assim, há pessoas que dizem erroneamente que Mari é Moyoco e acreditam nelas. A parte mais equivocada.”; “Mari só tem a libido de Tsurumaki-san nela. Ela tem óculos, é forte, e poderia estar em FLCL. Ela também é uma personagem com o mesmo diálogo.”

A equipe de Khara e a conta oficial comentando sobre o cofundador da Gainax
3 – Quem é Mari nos Rebuilds?

No segundo e terceiro filmes (You Can (Not) Advance e You Can (Not) Redo) não sabemos muito sobre ela, seu passado e seus objetivos. Temos o vislumbre do interesse por Shinji e seu cuidado por Asuka. Temos mais perguntas do que resposta sobre ela.

Antes de ver Mari em 3.0+1.0 é interessante ler o mangá one-shot Evangelion 3.0(120 min), é um prequel da missão do espaço no inicio de You Can (Not) Redo, é uma publicação canônica escrita por Kazuya Tsurumaki e desenhado por Mahiro Maeda e Hidenori Matsubara, com supervisão direta de Anno, disponível no panfleto distribuido para quem foi ver Evangelion 3.0+1.0 nos cinemas japoneses. Eu traduzi esse mangá para o português e você pode ler aqui.

Nele é mostrado muito bem a dinâmica na relação em Mari e Asuka e o interesse dela em rever Shinji.

Shin Eva aproveita esses vislumbre e dicas e expande dando ao personagem de Mari um papel mais central na narrativa. Ela ainda é uma personagem coadjuvante, mas na verdade a vemos interagindo com outras pessoas não apenas sendo uma piloto de Eva. O filme também enfatiza a dinâmica de Mari com Asuka e Shinji como pessoas que ela está interessada/tem cuidado, e ajuda dando-lhes segurança ao longo do filme. Ela é uma personagem coadjuvante no sentido literal da palavra auxilia ou concorre para um objetivo comum).

Segundo a própria Mayaa Sakamoto: “Mari realmente gosta de pessoas”. Podemos ver esse seu lado em Evangelion 3.0+1.0.

– Começando com o seu cantarolar, você estava em todo lugar em Avant1. (cena de ação em Paris).
No início, recebi apenas o roteiro das partes A e B, e não sabia o que aconteceria na segunda metade, então só tive que fazer o que tinha que fazer. Neste ponto, pensei que este seria o ponto culminante de Mari em “3.0 + 1.0”, e desempenhei o papel da melhor maneira que pude. Olhando para trás agora, acho que os diretores devem ter feito um cálculo minucioso para fazer de Mari a personagem principal para que o público pudesse desfrutar da sensação do desconhecido, porque se os personagens familiares da série de TV estivessem ativos em Avant1, seriam dadas muitas dicas sobre o que estava por fim na narrativa.

—Como resultado, ela desempenha um papel muito importante em toda a história, e parece que Mari também é uma pessoa muito importante em todo o mundo “Eva”.
Foi um fardo pesado para mim, me perguntando se os fãs iriam me repreender por ter uma recém-chegada de mãos dadas com Shinji no final (risos). No entanto, houve muitas maneiras de retratar “Eva” no passado, e se você puder pensar nisso como um dos finais possíveis, estou a salvo. 

―O que você acha da obsessão da Mari com o “cheiro” em relação a Shinji?
“Você cheira bem” é uma linha memorável da primeira aparição da Mari em “:2.0”. Eu acho que foi uma cena memorável para a audiência também, já que ela é sempre incluída em máquinas de pachinko. No final deste episódio, há outra linha sobre o cheiro que parece ser um prenúncio, e eu realmente gosto dela. Eu pensei que foi legal que eles passaram um longo tempo voltando para o “cheiro”. Eu acho que a Mari realmente gosta de pessoas. Ela gosta do Shinji, mas eu acho que a Asuka é especial para Mari. Ainda que a Asuka a trate friamente, Mari sempre a chama de “Princesa” e respeita e a protege como uma pessoa especial. Além das batalhas que elas travam juntas, a cena que ela corta seu cabelo é bem quieta e calma, e tem um bom sentimentalismo. Achei que o contraste entre as duas foi bem definido. Para a cena com a Asuka, foi ótimo poder gravar sua voz junto com Yuko Miyamura.

Evangelion 3.0+1.0 Pamphlet

4 – O Passado

O filme final de Evangelion também lança mais luz sobre seu passado misterioso, bem como outras possíveis razões para querer ajudar Shinji. Ela é vista nas memórias de Gendo como sua colega de classe e a pessoa que apresentou Yui a ele.

Aqui vamos desconstituir outro mito que rola no fandom de Eva. Mari apareceu no estágio extra do último mangá de Eva de Yoshiyuki Sadamoto. O que acontece naquele estágio extra, apesar da ideia ser a mesma, não há qualquer relação com os filmes, isso dito pelo próprio Sadamoto durante o evento Connichi que aconteceu em Setembro de 2016:

Oh, isso não está no enredo, é apenas um capítulo extra para o volume do mangá. É até mesmo fora dos filmes, como fanservice. Apenas algo que você não deve pensar muito sobre. (Risos) É apenas algo que passou pela minha mente, eu pensei que seria engraçado se fosse assim. […] [O entrevistador então pergunta se não foi solicitado que ela aparecesse no mangá] Não foi... desde que ela apareceu em 1.0, 2.0 e 3.0, eu me perguntava qual seria seu papel na história, quando eu perguntei ao pessoal, eles me disseram que não seria possível ir mais longe no filme, então eles tiveram que amarrar a história principal e que Mari quase não teria tempo em tela. Então eu me perguntava qual era o ponto, e decidi adicionar um pouco de sua história no mangá, por impulso. Então, realmente não é algo que a equipe do cinema pensou ou me pediu para fazer, apenas algo que você pode considerar como um brincadeira minha. […]

Bem, mas é claro quando vemos Mari em 2.0 ou 3.0 e vê-la chamar Gendo de Gendo-kun ou cheirar o odor de Shinji, ela está fazendo muitas coisas estranhas. Além disso, ela parece gostar muito das canções da era Showa, já que as canta. Então, eu acho que, ou ela está realmente interessada na era Showa ou ela nasceu na época e não envelheceu desde então. E você sabe,  que em Q, eles introduziram o conceito que as crianças que foram escolhidas como pilotos não envelhecem, eu endossaria a última, dizendo que Mari é alguém da geração da mãe de Shinji e que de alguma forma se tornou uma piloto. Mas, novamente, eu só estou imagino tudo isso. (risos) [O entrevistador pergunta: foi Anno que decidiu isso?] […] Como eu disse, o diretor Anno não aprovou ou refutou essa ideia, ele não tem nada a ver com o que eu acabei de dizer.

Voltando, o filme também implica que Fuyutsuki e Mari estavam trabalhando juntos de alguma forma pelas costas de Gendo enquanto seguiam a vontade de Yui. Isso faz pensar que Mari fazia parte do plano de segurança de Yui para garantir que Shinji recebesse a ajuda de que precisava durante a Instrumentalidade. Além disso, ela tomou medidas para garantir que seu EVA pudesse ajudar Shinji a pegar Gendo e então ela assimilou mais Receptáculos de Adão para que sua unidade durasse o suficiente para que ela pudesse encontrar Shinji novamente após a Instrumentalidade.

5 – Iscariotes / Makinami

Quanto a Fuyutsuki chamar ela de Iscariotes. Pode ser um apelido que ela ganhou depois de trair Gendo, se referindo a Judas Iscariotes que traiu Jesus. Mas se for realmente seu sobrenome real, então Makinami poderia ter sido uma brincadeira para fazer todos pensarem que ela era um clone como as pilotos Ayanami e Shikinami.

6 – Falta de Desenvolvimento?

Agora, uma das maiores críticas à personagem de Mari: Sua falta de desenvolvimento.

Quando dizem que Mari não é uma personagem desenvolvida, sim, estão certos. Mari permanece a mesma desde sua introdução até a cena final de 3.0+1.0. Mas isso é uma coisa ruim?

Existe essa noção de que apenas personagens dinâmicos podem ser considerados “bons” porque mudam e se desenvolvem ao longo da história. No entanto, personagens estáticos também podem ser ótimos, desde que cumpram seu papel na história.

Mari é uma personagem que não precisa de desenvolvimento porque já sabe como quer viver e o que a faz feliz. Seu papel é apoiar personagens como Asuka e Shinji para que eles possam descobrir seu propósito na vida e encontrar sua própria felicidade.

7 – O Final: Shinji e Mari

E, finalmente, o grande elefante na sala: Por que Mari é quem vai viver com Shinji no novo mundo?
Bem, porque ela é aquela que representa um novo começo para Shinji, que acabou de deixar para trás os laços mais preciosos de sua vida anterior. O que Asuka precisava Shinji não podia dar a ela, então ele deu a ela o encerramento, ficou no mundo com Evas. Kaworu percebeu que precisava encontrar sua própria felicidade em vez de viver exclusivamente para o bem de outro. E Rei terá a chance de viver por si mesma, assim como seu clone fez.

Depois de dizer adeus a esses relacionamentos, Mari trouxe cor de volta à vida de Shinji. E agora, eles têm a chance de um novo começo com uma vida totalmente nova pela frente.

Se eles são amantes, amigos ou familiares é deixado para o espectador decidir. O próprio diretor de som de Evangelion, revelou em uma entrevista com a Vtube Vivian que não foi instruido aos seiyuus de Shinji e Mari a agirem como amantes na cena final, ele interpretou o relacionamento deles como de amigos. É mencionado que a cena da estação não foi instruída como romântica. Até mesmo os seiyuu tinham opiniões diferentes sobre isso. “Tenho certeza de que é isso que Anno pretende, que Eva seja como um “espelho” e devolva o que o espectador vê nele. Esse é o apelo de Eva.”

8 – Conclusão

Nesse sentido, apesar de permanecer inalterado, Mari encarna o tema da mudança presente ao longo dos Rebuilds. Em um mundo onde as pessoas colocam barreiras conhecidas como campos AT entre si, ela permitiu que outras pessoas mudassem constantemente quebrando essas barreiras.

Finalizando, Mari pode não ser a personagem mais complexa, nem aquela com mais camadas, mas há mais nela do que aparenta. Ela é uma personagem simples, mas fascinante.

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Fontes: Evangelion 2.0 Complete Records Collection, Evangelion 3.0+1.0 Pamphlet, Conichi 2016, Eva Fandom, Eva Geeks, Rikki, @shinramain e FelipeFritschF